Mensagem na Garrafa

Mensagem na Garrafa: Bocó de Manoel de Barros

Manoel-de-Barros (2 boa)

Quando o moço estava a catar caracóis e pedrinhas

na beira do rio até duas horas da tarde, ali

também Nhá Velina Cuê estava. A velha paraguaia

de ver aquele moço a catar caracóis na beira do

rio até duas horas da tarde, balançou a cabeça

de um lado para o outro ao gesto de quem estivesse

com pena do moço, e disse a palavra bocó. O moço

ouviu a palavra bocó e foi para casa correndo

a ver nos seus trinta e dois dicionários que coisa

era ser bocó. Achou cerca de nove expressões que

sugeriam símiles a tonto. E se riu de gostar. E

separou para ele os nove símiles. Tais: Bocó é

sempre alguém acrescentado de criança. Bocó é

uma exceção de árvore. Bocó é um que gosta de

conversar bobagens profundas com as águas. Bocó

é aquele que fala sempre com sotaque das suas

origens. É sempre alguém obscuro de mosca. É

alguém que constrói sua casa com pouco cisco.

É um que descobriu que as tardes fazem parte de

haver beleza nos pássaros. Bocó é aquele que

olhando para o chão enxerga um verme sendo-o.

Bocó é uma espécie de sânie com alvoradas. Foi

o que o moço colheu em seus trinta e dois

dicionários. E ele se estimou

Manoel de Barros

Marujo, deixe seu comentário